A convocação de atletas para a seleção brasileira de esgrima vai ter novas regras a partir de 2014.
A confederação já informou federações e clubes que o ranking nacional dará vaga apenas aos dois melhores de cada gênero (masculino e feminino) e arma (espada, florete e sabre). Ou nem mesmo a eles, em caráter excepcional, dependendo de motivos técnico, disciplinar e físico.
Os esgrimistas não gostaram. Acreditam que o critério deve ser técnico, não subjetivo. O que já gerou reação dos atletas (leia mais clicando aqui).
O treinador chefe da seleção brasileira, o italiano Pierluigi Chicca, justificou a nova regra, explicou o que espera com a mudança e criticou a postura dos esgrimistas brasileiros.
Confira, abaixo, a entrevista com Pierluigi Chicca, 76, medalhista olímpico em Roma-1960 (bronze), Tóquio-1964 (prata) e Cidade do México-1968 (prata) com o sabre, casado com a ex-esgrimista brasileira Deise Falci e atualmente treinador chefe da seleção do Brasil:
FOLHA: Por que a Confederação Brasileira de Esgrima decidiu mudar as regras de convocação de atletas para eventos internacionais? O que vocês pretendem alcançar com essa mudança?
Pierluigi Chicca: Considerando que o número de praticantes de esgrima no Brasil não é elevado, alguns atletas, apenas graças a sua experiência, conseguem se classificar entre os primeiros do ranking, apesar de terem idade avançada e não terem capacidade real de continuar um trabalho de atleta de alto rendimento. Isso até poderia ser reconsiderado, se esses atletas, competindo no exterior, conseguissem fazer resultados satisfatórios. Mas, no momento que não conseguem obter nenhum resultado e acabam sendo eliminados no primeiro turno da competição, acreditamos que seja melhor procurar entre os jovens, possíveis novos talentos, que, na pior das hipóteses, vão fazer o mesmo resultado. E, ao menos, se dá a eles uma possibilidade de crescimento, fazendo com que adquiram experiência para terem resultados melhores no futuro.
FOLHA: A Associação Brasileira de Esgrimistas já se manifestou contras as mudanças. Como está a participação dos atletas nessas decisões?
Pierluigi Chicca: Todas mudanças acabam sempre incomodando alguns, porém, se não fizermos mudanças não vamos obter melhores resultados. Como podemos pretender melhorar sem mudar e procurar novas alternativas, ficando tudo igual como está, não funciona. A ABE se posicionou contrária num primeiro momento, apenas porque poucos atletas se lamentaram das mudanças. Essas pessoas não gostaram das novas regras porque querem apenas estarem seguros e confortáveis do dinheiro mensal que recebem de patrocínio. Atletas que são realmente fortes não deveriam ser inseguros, pois não teriam problemas em demonstrar as suas reais capacidades, demonstrando, claro, em competições no exterior e não resultados aqui no Brasil onde o nível das competicoes é, infelizmente, muito baixo.
FOLHA: Você consegue avaliar ou visualizar algum tipo de disputa dentro da confederação ou entre atletas do Rio Grande do Sul e de São Paulo?
Pierluigi Chicca: Certamente vejo rivalidade entre esses dois pólos. E fico feliz que exista. Espero que aumente e que outras entidades possam fazer parte dessa disputa. Somente com uma leal e sã disputa entre os clubes é que se pode obter melhores resultados. Assim como espero que aumente o número de praticantes no Brasil, pois aumentando a quantidade será mais fácil encontrar e escolher a qualidade. O Brasil com quase 200 milhões de habitantes tem apenas cerca de mil praticantes de esgrima. Na Itália, o país mais forte do mundo atualmente, com 60 milhões de habitantes, tem mais de 30 mil esgrimistas. Os números falam por si só.