Com salários atrasados por ex-time de Eike, Bruninho deixa o Rio e vai jogar na Itália

Por Marcel Merguizo

O levantador Bruninho, capitão da seleção brasileira, anunciou hoje sua saída do time do Rio, atual campeão nacional, para jogar pelo Modena, da Itália, devido ao atraso de salários.

Ele se despediu ontem dos companheiros e já está na lista de inscritos do time italiano, um dos principais do país, pelo qual atuou em 2011.

Na mensagem em sua página no Facebook, Bruninho disse que só o primeiro salário da temporada foi pago.

Como a Superliga começou em setembro, completam-se quatro meses de dívida agora em janeiro.

Chamada de RJX desde 2011, a equipe tinha como principal patrocinadora a OGX, empresa do grupo EBX, do empresário Eike Batista.

Em novembro, em meio à crise do grupo, a petrolífera cortou o apoio ao time.

O contrato de direito de imagem dos principais jogadores era feito com a empresa de Eike. E esses atletas não estão recebendo os pagamentos mensais.

Já os demais jogadores têm contrato com patrocinadores secundários, como a Furnas, e recebem em dia.

No fim de novembro, o central Maurício Souza, também da seleção, foi o primeiro a deixar o time do Rio para jogar na Turquia.

A equipe continua na Superliga, mas com o nome de RJ Vôlei e sem a marca da empresa de Eike no uniforme.

O time é o atual terceiro colocado da competição.

Em nota, Bruninho disse que havia recebido propostas anteriormente, mas “tinha a esperança de que conseguiríamos outros parceiros para a manutenção de todo o elenco”. Dessa vez, a esperança chegou ao fim.

Em nota, a Confederação Brasileira de Vôlei disse esperar “que um novo parceiro seja encontrado o mais rapidamente possível”.

No fim do ano, à Folha, o central Gustavo Endres, presidente da Comissão de Atletas e jogador do Canoas, já havia feito críticas em relação à situação do vôlei no Brasil.

Segundo o ex-central da seleção brasileira, atualmente muitos atletas jogam sem contrato assinado com seus respectivos clubes. Assim, Nas últimas semanas de 2013 aconteceram reduções de salários em até 30% e atrasos nos pagamentos de alguns jogadores.

“O problema do RJ Vôlei não é um fato isolado. Colegas de profissão estão em outras equipes passando por problemas semelhantes e muitas vezes até piores do que o nosso no Rio de Janeiro. É preciso valorizar o esporte coletivo que mais medalhas olímpicas e mundiais conquistou para o nosso Brasil”, afirmou o levantador e capitão da seleção.

Em nota enviada à Folha, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) disse que “lamenta as dificuldades enfentadas pelo RJ Vôlei, ocorridas em virtude da saída recente do principal patrocinador da equipe. A entidade espera que um novo parceiro seja encontrado o mais rapidamente possível, a fim de que as pendências do RJ Vôlei sejam devidamente regularizadas e sua participação na Superliga masculina não seja comprometida.”

O RJ Vôlei não respondeu à Folha.

 

LEIA ÍNTEGRA DO COMUNICADO DE BRUNINHO

Bom dia pessoal, antes que a mídia noticie, estou aqui!

A situação do RJ Vôlei, como é do conhecimento geral, não é das melhores. Recebi propostas anteriormente, mas acreditei que pudéssemos resolver o problema do clube e tinha a esperança que conseguiríamos outros parceiros para a manutenção de todo o elenco.
Mas eu e alguns companheiros de elenco recebemos apenas um mês desde o início da temporada, situação que me levou a tomar a decisão mais difícil da minha carreira: a de deixar o Brasil por algum tempo.

Estou aceitando a proposta de jogar o restante da temporada em Modena, cidade da Itália onde já atuei em 2011 e pela qual tenho um grande carinho.

Jamais gostaria de deixar amigos, companheiros e uma torcida que nos apoia no meio de uma competição como a Superliga. Mas a situação se torna inevitável e, na nossa curta carreira de atletas, não podemos abrir mão dos nossos direitos como profissionais por praticamente uma temporada inteira.

É claro que continuo acreditando no vôlei do Brasil e jogar aqui sempre será minha primeira opção. Mas vejo que devemos nos preocupar com a situação geral do esporte em nosso país.

O problema do RJ Vôlei não é um fato isolado. Colegas de profissão estão em outras equipes passando por problemas semelhantes e muitas vezes até piores do que o nosso no Rio de Janeiro.

É preciso valorizar o esporte coletivo que mais medalhas olímpicas e mundiais conquistou para o nosso Brasil.

Se isso acontece em uma modalidade com tanta visibilidade, e considerada por muitos a segunda mais importante do país, imaginem o que se passa com as que não têm o mesmo espaço na mídia.

Sempre é bom lembrar que estamos a dois anos de uma Olimpíada, que além do mais será realizada aqui mesmo no Brasil, e no Rio de Janeiro.

Desculpem o desabafo, mas não poderia me calar diante dessa situação.

Espero que vocês entendam minha decisão e saibam que nesses últimos meses não faltou empenho para resolver o problema.

Desejo todo o sucesso aos meus companheiros e integrantes da comissão técnica. E agradeço o carinho que recebi da maravilhosa torcida do RJ Vôlei durante todo o tempo em que tive a honra de vestir a camisa 1 do clube.

Muito obrigado e conto com vocês sempre.

 Bruninho #1

 

Bruninho volta ao Modena, onde jogou em 2011
Bruninho volta ao Modena, onde jogou em 2011