‘Uma medalha de ouro no Rio é possível, sim’, diz Thiago Pereira

Por Paulo Roberto Conde

Em menos de dois anos, o fluminense Thiago Pereira, 28, afogou a (injusta) fama de perdedor para adquirir um novo status.

Medalhista de prata nos 400 m medley na Olimpíada de Londres-2012, faturou duas medalhas de bronze no Mundial em piscina longa (de 50 m) de Barcelona, entre julho e agosto do ano passado: nos 200 m e 400 m medley. Todas foram inéditas em sua carreira, recheada de pódios nacionais e em Jogos Pan-Americanos.

Com a nova condição, o que ele mais busca não é fama, dinheiro ou visibilidade. “As medalhas, principalmente a de Londres, me deixaram muito mais leve. O que quero é tranquilidade para trabalhar até 2016”, disse.

Nesta entrevista ao Olímpicos, ele fala sobre metas alcançadas, o sonho de um ouro na Olimpíada do Rio e seu palpite sobre um eventual retorno de Michael Phelps. Ele acredita na volta do astro.

Estamos a menos de 900 dias dos Jogos do Rio, a expectativa aumenta diariamente. Para você, esses dois anos e meio se desenham como?
Agora estou bem no início da nova temporada. Estou saindo de um período de base, que é aquele treinamento mais pesado. Tenho o Pan-Pacífico [em Gold Coast, na Austrália], que acaba sendo meio parecido com o Mundial, porque meus adversários estão nos Estados Unidos e Japão, como minha principal competição. Vai ser boa até como um teste, para ver como está o trabalho e fazer ajustes. Quero chegar aos Jogos em 2016 e não ter erro algum. Apesar de acharmos que falta muito para a Olimpíada, para nós atletas a preparação começa agora, em termo de físico, de técnica. Ano que vem tem Jogos Pan-Americanos [em Toronto, no Canadá] e Mundial em piscina longa. No Pan, tenho alguns objetivos pessoais, como igualar e ultrapassar o recorde do Gustavo Borges, que é o líder na contagem total. Estou bastante empolgado para esses dois anos e meio.

Você falou em preparação e acerto do peso. Isso mudou muito nos últimos anos?
Eu dou mais valor a isso, principalmente à parte fora da água. Estar sempre indo a uma nutricionista, psicóloga, tenho duas vezes fisioterapia por semana para prevenir lesão. Além, é claro, do treino na piscina. Isso tem se refletido no resultado geral. Hoje faço abdominal, levantamento de peso, entre outras coisas de coordenação motora que ajudam na água

O que você tem focado como prevenção na fisioterapia?
Eu tenho fortalecido mais ombro. Ombro de nadador é fogo. Nosso ombro não foi feito para tantos movimentos, é a região que mais sentimos. Sempre faço acupuntura e trabalho para cuidar o melhor possível do corpo. O meu corpo é para mim como o carro para a Fórmula 1. Quanto mais eu cuidar, melhor para mim.

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O que se nota nos últimos anos é que sua confiança aumentou após a medalha de prata nos 400 m na Olimpíada de Londres. Você se sente mais confiante hoje em dia?
Mudou bastante depois daquilo. Foi sempre um grande sonho chegar a uma Olimpíada e conquistar uma medalha. Tinha tido a chance em 2004, em 2008 e ainda bem que veio em Londres. A prata tirou uma pressão e um peso muito grandes que eu mesmo me colocava. Eu me sinto bem mais leve depois dela. Sei da importância daquele pódio, e o que me deixa bem tranquilo para esse próximo ciclo olímpico é que meu sonho já foi realizado. Minha medalha está lá e ninguém tira. Quero ir além no Rio, em 2016? Claro que quero. Mas ter ido já a um pódio olímpico me deixa bem mais tranquilo.

Buscar o ouro em alguma prova em 2016 é possível?
A tranquilidade que tenho é muito maior. Tenho um trabalho de dois anos e meio com meu técnico, Alberto Silva, e é possível. Não vai ser fácil, é uma Olimpíada, mas tenho treinado buscando isso. Tecnicamente, tive avanços. Eu mudei muito minha frequência de braçada, e hoje ela é muito menor que antes. Essa dosagem em cada ponto vai me ajudar nas minhas provas. Meus resultados no Mundial de Barcelona provaram isso.

Você se considera realizado?
Eu já sou bastante satisfeiro com tudo o que eu fiz. Tanto na vida profissional quanto na pessoal. Espero que eu influencie muito as crianças a começarem a nadar. Isso me deixa muito tranquilo. Meus sonhos já foram realizados. Nós atletas nunca ficamos satisfeiros, queremos sempre mais, ir atrás do nosso limite. Mas o mais importante de todos era uma medalha olímpica, e isso consegui. Se eu tivesse conquistado essa medalha em 2004 não teria dando tanto valor quanto dei em 2012.

Em todos os seus ciclos olímpicos você teve a companhia do Michael Phelps. Ele se aposentou depois dos Jogos de Londres, mas agora há vários rumores que dão conta de que ele voltará para disputar a Rio-2016. Você acredita nisso, e mais, acha que será benéfico para você?
Ele é o maior atleta olímpico do mundo. Não tenho o que falar dele. Qualquer evento que contar com ele ganha outra atração, uma força muito maior. Como competidor, seria bem legal se ele voltasse. Phelps fez parte da maior parte da minha vida. Se eu cheguei aos meus tempos de hoje foram graças a ele. Ter mais uma oportunidade de vencê-lo, quem sabe, seria bem legal.

Você morou nos EUA. Por lá, a crença é de que ele voltará mesmo?
Só de ele voltar para a lista de antidoping é porque tem alguma coisa. Ele não ia voltar se não fosse competir. Esse foi o grande lance. Phelps nem avisou ninguém, só se inscreveu e pronto. Acho que vai acabar voltando.