Ana Paula foi uma das primeiras musas do vôlei brasileiro. Também foi das jogadoras mais vitoriosas. Nos anos 90, em quadra, e nos 2000, na praia, a mineira sempre chamou a atenção.
Hoje, aos 42 anos, Ana Paula vive em Los Angeles, nos Estados Unidos. É mãe, está casada e estuda Arquitetura e Designer de Interiores na UCLA (uma das mais tradicionais universidades americanas).
No currículo, o bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta-1996, diversos títulos com clubes e seleção e ainda campeã do circuito mundial já na areia em 2003. Ainda jogou a Olimpíada de Barcelona-92, na quadra, e os Jogos de Atenas-2004 e Pequim-2008, na praia.
Em bate-papo por telefone com o blog Olímpicos, em razão da quebra do recorde de vitórias seguidas na Superliga que era dela e deve ir para as meninas do Osasco hoje, Ana falou sobre a nova vida e opinou também sobre a atual crise no vôlei brasileiro e as denúncias contra a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
ESTUDOS
Estou há quatro anos aqui em Los Angeles. Mas sempre que posso vou para minha casa, no Rio. Fico entre aqui e lá. Agora estou estudando algo que eu sempre quis, que é Arquitetura e Designer de Interiores aqui em UCLA.
VÔLEI DE PRAIA
Toda quinta-feira jogo vôlei na praia. Comecei há um ano. Jogamos em quarteto eu, Holly McPeak, Kerri Walsh e outras meninas. Elas são muito competitivas. O jogo é todo gritado. É bom porque mantenho a forma. Tenho que jogar em grande intensidade para acompanha-las.
OSASCO QUEBRA RECORDE DO LEITE MOÇA
Nunca tivemos a intenção de ganhar a Superliga invictas. Porque ninguém se sentia estrela naquele time. Falavam que era um time estrelado, mas éramos muito pé no chão. A gente só queria ganhar. Era um time experiente, com jogadoras de seleção e com o Sergio Negrao controlando bem aquele grupo. Foi um ano de casamento perfeito (1995/1996) de um técnico com mão certa para conduzir e um time com muita capacidade técnica. Treinamos muito, só pensávamos no próximo jogo e nada deu errado. Mas, emocionalmente, fooi o título mais difícil dos três da Superliga. Porque precisamos fechar um buraco grande que era a ausência da Aninha [Moser], que se machucou bem no início daquele campeonato.
MUDANÇAS NO VÔLEI DE QUADRA
Mudou muito o jogo. Eu, mesmo sendo meio-de-rede, comandava a linha de passe do time. Hoje, com a criação da posição de líbero, a meio saca e sai. As meios não sabem passar mais. Isso não é voleibol. Por isso mudou muito o perfil das jogadoras, que são muito mais altas hoje.
FILHO
Meu filho, Gabriel, já está com 13 anos e tem 1,85 m. Nunca forcei, deixei ele escolher o esporte. E ele joga vôlei hoje. Começou no colégio, agora está em um clube. [Vai jogar na seleção brasileira ou americana?] Se depender de mim, com certeza pelo Brasil.
CRISE NO VÔLEI BRASILEIRO
Acompanho bem de perto, ainda falo muito com jogadores e técnicos. O sentimento é de total tristeza. Tristeza mesmo, não é decepção. É tristeza porque é profunda, não passa. É tanto sacrifício que nós, jogadores, fizemos nas nossas vidas para fazer do vôlei o que ele é hoje e vem um escândalo desse para manchar. Mancha o nome do vôlei brasileiro, não mancha a gente. Não muda o que a gente fez. Espero que a torcida saiba separar. E também espero que tudo seja investigado. Isso me dá uma pontinha de esperança. E torço para que tenha uma punição. Porque não podemos quebrar essa corrente de investimento desde base, recursos que sempre chegaram lá embaixo e que fizeram o vôlei o exemplo que era.