O ginasta Henrique Flores, 23, não é nenhum novato.
Medalhista em torneios internacionais de relevância desde 2011, ele deu um salto na carreira nos final do mês passado quando conquistou a medalha de prata nas argolas na etapa de Doha, no Qatar, da Copa do Mundo.
Nesta semana, ele disputa a etapa de Osijek, na Croácia, da competição.
“Quero fazer meu nome, pois só é visto quem está no pódio”, afirmou o atleta.
Ao mesmo tempo em que se contenta com a ascensão na mesma prova do campeão olímpico Arthur Zanetti, Henrique também se lamenta pela falta de reconhecimento.
Segundo ele, a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) exalta seus feitos, mas não o trata como um atleta da seleção de fato.
Na relação de convocados para a etapa de Doha, ele contou, foi listado como “atleta-convidado”. Mais do que o status, pertencer à equipe nacional poderia lhe render remuneração extra.
“Defendo a seleção, mas não recebo qualquer valor. Os outros atletas recebem. Acabo chateado, porque no fim aproveitam minha imagem”, desabafou.
Os 12 atletas que hoje a CBG aponta como elite da seleção recebem recursos da Caixa Econômica Federal, que patrocina a entidade.
Entre eles estão Zanetti, seu companheiro de treino em São Caetano, Sérgio Sasaki e Diego Hypolito, que já participaram de Olimpíadas.
“Eu não recebo da Caixa ou da Sadia, mas sou obrigado por contrato a usar os logotipos deles quando defendo a seleção”, disse Henrique, que é filho de Marcos Goto.
Técnico de Zanetti, Goto foi eleito pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) o melhor treinador do país em 2012 e 2013.
É justamente o vínculo familiar que o mantém na ativa. “Se eu não tivesse uma família que me desse condição, teria parado de competir. Recebo Bolsa Talento [programa de fomento do governo do Estado], mas é pouco.”
Dono de uma nota de partida nas argolas de 16.900, uma das mais altas do mundo —maior até do que a de Zanetti—, Henrique faz faculdade e afirmou que pode abdicar do esporte para estudar.
“Quero ir aos Jogos do Rio, mas também penso em focar no meu plano B.”
Procurada, a CBG afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que estabeleceu nesta gestão “critérios específicos e isonômicos” para definir integrantes de suas seleções em todas as modalidades —artística, rítmica e de trampolim.
A quantidade de atletas contemplados pela ajuda de custo mensal também respeita a disponibilidade financeira, afirmou a entidade.
A CBG terá à disposição R$ 9 milhões oriundos do patrocínio da Caixa em 2014. No ciclo olímpico até 2016, o pagamento total do banco poderá chegar a R$ 35 milhões.
De acordo com ela, no caso da ginástica artística masculina, a definição dos 12 atletas é feita pela regularidade e pelo potencial técnico, mas pode haver mudanças e ele ser incluído entre os que recebem a remuneração.
“O ginasta Henrique Flores é um desses atletas (…) Foi convidado para compor a delegação que participou da Copa do Mundo de Doha, no Qatar, com todas as despesas pagas pela CBG: hospedagem, alimentação, transporte aéreo, seguro e FIG Licence”, continuou a nota.