Se fosse na NFL, Alvaro Pereira não poderia ter voltado ao campo

Por Paulo Roberto Conde
O lateral esquerdo Alvaro Pereira, do Uruguai, desmaiado durante o jogo de sua seleção contra a Inglaterra, na quinta-feira (Crédito: François Xavier Marit/Associated Press)
O lateral esquerdo Alvaro Pereira, do Uruguai, desmaiado durante o jogo de sua seleção contra a Inglaterra, na quinta-feira (Crédito: François Xavier Marit/Associated Press)

A vitória por 2 a 1 do Uruguai sobre a Inglaterra, nesta quinta-feira, teve Luis Suárez como evidente protagonista. Mas outro lance ficou bem marcado pelas câmeras e pelos flashes que espocaram no Itaquerão: o desmaio do lateral esquerdo Alvaro Pereira, da Celeste (e do São Paulo).

Aos 15 minutos do segundo tempo, Pereira dividiu bola com o inglês Sterling, sofreu um choque na cabeça e apagou.

Ficou estatelado no gramado por uns bons segundos, a maca entrou, ele acordou e, contrariando ordens do médico da equipe, recusou-se a deixar o jogo.

Agora, o que isso tem a ver com esporte olímpico? Inicialmente, nada. Mas enseja uma discussão muito interessante. Peço licença aos nossos leitores para navegar por um outro assunto.

Se Pereira jogasse na NFL, a riquíssima liga de futebol americano dos EUA, ele teria de sair de campo. Seria obrigado. “Ah, mas eu estou bem”. Pouco importa.

Na NFL, não se pode mais desacatar ordem médica. Virou regra, e com razão, depois que estourou nos EUA um debate sobre lesões cerebrais de uns anos para cá.

A determinação funciona assim: se um jogador da NFL sofre uma pancada em campo, é praticamente impossível saber naquele exato momento se ele teve um dano cerebral. O médico, seja da equipe ou um neutro, escalado pela própria liga, então deve dar um parecer. Esse veredicto é calcado na cautela, e tende a ser sempre conservador.

Até o início da década passada, era comum que médicos na NFL abaixassem a cabeça e até encorajassem que atletas voltassem a campo segundos após levarem um “hit”.

Alguns jogavam com concussão grave, hemorragias e depois nem sequer se lembravam do que haviam feito. No longo prazo, como se comprovou cientificamente, essas lesões podiam até desenvolver uma doença (a encefalopatia crônica traumática, em inglês chamada de CTE) e acarretar morte.

Foi encontrada CTE em vários ex-jogadores da NFL que tiveram seus cérebros estudados depois de mortos.

Relatos impressionantes podem ser lidos no livro “League of Denial”, de Mark Fainaru-Wada e Steve Fainaru, repórteres da ESPN nos EUA. Existe também um documentário impressionante com o mesmo nome. Recomendo, a quem puder vê-los, que o faça.

Como dito acima, depois do mega debate gerado nos últimos anos isso mudou e deve se espalhar por outras ligas dos EUA, como a de basquete (NBA) e hóquei (NHL).

Não será surpreendente se daqui a algum tempo esses procedimentos adentrarem o mundo olímpico. Foi belíssimo, o esforço de Alvaro Pereira. Mas, na mesma proporção, perigoso.

Qual a reação de vocês à atitude dele?