Para Gustavo, seleção está batendo na porta e precisa fazer algo diferente

Por Marcel Merguizo

Logo após a derrota do Brasil na Liga Mundial, neste domingo, liguei para Gustavão.

Ah, sim, Gustavão, para mim, ainda é Gustavo Endres, central de 38 anos, ouro em Atenas-2004, prata em Pequim-2008, bicampeão Mundial (2002 e 2006), campeão em seis Ligas Mundiais (de 2001 a 2007), entre outra dezenas de títulos internacionais. Alguém que poderia explicar a atual fase da seleção brasileira.

Ou seja, não liguei para o Gustavão, central de 28 anos e 2,15 m, que naquele momento ainda devia estar em quadra, em Florença, na Itália, para receber a medalha de prata após a derrota da seleção para os EUA.

“Eu sou Gustavinho perto dele”, brincou Gustavo Endres, 2,03 m, logo depois de elogiar o meio de rede da atual seleção.

Aliás, este foi o tom do bate papo com o ex-capitão da seleção, que ainda joga pelo Canoas.

“Estamos muito bem servidos de centrais, até melhores do que na minha época”, disse “Gustavinho”. Lucão, Sidão, Éder, realmente, são grandes –literalmente– jogadores. Não melhores do que Gustavo no auge, mas, juntos, são opções muito boas para Bernardinho.

“Temos muitos talentos na ponta”, voltou a elogiar, referindo-se, na sequência, ao irmão Murilo e a Lucarelli, que “vai brilhar por muitos anos ainda”, completou.

Mesmo assim, com um elenco repleto de boas opções, Gustavo acredita que está faltando o tal “algo a mais” para o Brasil voltar a ser campeão de um grande torneio. Desde os títulos da Liga e do Mundial, em 2010, a seleção acumula alguns tropeços e diversos vices como na Liga Mundial (2014, 2013 e 2011) e nos Jogos Olímpicos de Londres (2012), assim como foi prata em Pequim-2008.

“Precisa fazer alguma coisa diferente. Seja melhorar taticamente ou individualmente. Estamos batendo na porta e vamos para o Mundial fortalecidos. Mostramos que podemos ganhar. Agora é encaixar um jogo ou alguém jogar a final um pouquinho acima da média, e vamos ganhar”, afirmou.

O discurso é parecido com o que disseram atletas e o próprio Bernardinho após a derrota em Florença, na Itália. A dificuldade, agora, é encontrar o que é esse diferencial para a seleção voltar a erguer as taças.

“Mesmo ganhando, essa comissão técnica está sempre preocupada. É uma constância deles”.

Por esse motivo, Gustavo acredita que o Brasil está entre os favoritos para o Mundial da Polônia, de 30 de agosto e 21 de setembro. O ex-capitão acredita que além do Brasil e dos donos da casa, provavelmente estarão nas semifinais Rússia, EUA ou Itália.

Perguntei se os escândalos na CBV, expostos desde o começo do ano, poderiam ter atrapalhado a seleção no início da Liga. Afinal, na primeira fase, o Brasil perdeu seis de 12 jogos e quase não se classificou para a etapa final da competição.

“Não chegou a atrapalhar, não. Falei com eles, e o Bernardo sempre consegue blindar muito bem a equipe. O que pode ter acontecido é que o foco fora de casa é melhor. Jogar as primeiras partidas no Brasil, com família, mídia, todo mundo em cima, é mais difícil às vezes. Pode ver que, depois, embalou. Mesmo um ou dois jogos fora já ajudam porque você só pensa em treino, jogo e volta pro hotel”.

Sobre a derrota da seleção na final da Liga, Gustavo insistiu no “merecimento” dos americanos, elogiou a “surpreendente, jovem e talentosa” equipe dos EUA e ainda repetiu palavras de Bernardinho ao dizer que é preciso tirar “lições” do jogo para o Mundial.

Ao torcedor brasileiro, a visão de Gustavo Endres passa, no mínimo, tranquilidade de que os títulos voltarão. Basta encontrar o passo que falta para ultrapassar a porta e parar de bater nela.

Gustavo_Endres

Gustavo Endres nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011
Gustavo Endres nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em 2011 (Daniel Marenco/Folhapress)