Por Ed Hula*
O que é a melhor coisa que aconteceu até agora para os Jogos Olímpicos de Verão do Rio de Janeiro, em 2016? A Copa do Mundo de 2014.
Um mês de futebol ao redor do Brasil e o país ainda está de pé.
Após anos de preocupações quanto ao Brasil estar pronto para receber a Copa, o torneio teve fim e foi, em muitos aspectos, um sucesso (a seleção brasileira não correspondeu, mas falarei mais sobre isso no transcorrer deste artigo).
Os jogos da Copa foram disputados sem incidentes. Espectadores entusiasmados lotaram as arenas. O transporte pareceu funcionar, seja levando pessoas a um estádio ou a redor do país por meio de carro ou de avião. Os temores de que protestos estrangulariam as cidades-sede da Copa não tiveram fundamento.
Na televisão internacional, o Brasil pareceu grande e convidativo. O Rio de Janeiro ocupou boa parte dos holofotes devido à sua fan zone em Copacabana e pelos jogos disputados no Maracanã. Visitantes e nativos claramente desfrutaram, mesmo quando os resultados de suas respectivas seleções não eram dignos de festejo.
Tudo isso para dizer que a experiência com a Copa tira muito da pressão do Brasil no sentido de provar que ele está preparado para executar uma operação ainda maior: os Jogos Olímpicos de Verão de 2016.
Se a Copa tivesse sido marcada por problemas e desastres, o questionamento sobre o Rio de Janeiro teria crescido e se tornado exponencialmente maior do que já é hoje.
Sim, ainda existem grandes dúvidas de especialistas de todo o mundo quanto ao Rio em 2016. Mas a Copa deu a todos uma onda de confiança, de que a tarefa pela frente para organizar a Olimpíada será concluída.
Mas, agora que temos um tempinho para respirar neste pós-Copa, o que ainda resta ao Rio fazer para acalmar as preocupações e medos em relação a 2016?
Construção está, provavelmente, no topo da lista. As obras estão finalmente em andamento depois de um atraso considerável no complexo esportivo de Deodoro e no Parque Olímpico da Barra da Tijuca.
A dois anos do evento, as construções estão atrás do previsto, mesmo se comparadas às de Atenas-2004, que receberam sinal amarelo do Comitê Olímpico Internacional quatro anos antes da realização dos Jogos da Grécia.
Enquanto há mais obras sendo realizadas do que antes, as federações esportivas internacionais ainda estão nervosas e indagam se suas instalações ficarão prontas para os eventos-teste no próximo ano e em 2016.
A percepção internacional de que o Rio não é necessariamente um lugar seguro para visitantes terá de ser confrontada. Crimes de rua como arrastões relatados durante a Copa não podem ser permitidos.
Claro que sempre existem problemas em uma cidade com o tamanho do Rio, mas crime certamente estava lá embaixo na lista de preocupações para Londres-2012 e para Pequim-2008.
A aplicação de leis no Rio será um fator importante nos dois próximos anos para fazer com que atletas e espectadores se sintam confiantes em relação à segurança. Qualquer grande violação de segurança será ampliada sob as lentes das Olimpíadas, e será apresentada pela mídia como um desafio na prontidão da cidade para receber o mundo.
Antes da Olimpíada de Pequim, a preocupação constante era a poluição do ar. No Rio, que será a primeira cidade banhada pelo Oceano Atlântico a sediar os Jogos de Verão, a poluição da água será uma má notícia regularmente relatada na regressiva para o evento de 2016. O contato com a água suja será um fato para centenas de competidores -velejadores, remadores e nadadores.
Enquanto o prefeito Eduardo Paes reconhece que não será possível limpar toda a água para 2016, talvez a vergonha a ser empilhada sobre a cidade fará a limpeza andar com mais rapidez.
Mas, neste post-mortem da Copa, talvez o maior temor para a Rio-2016 seja o colapso da seleção brasileira nas rodadas finais do Mundial da Fifa.
Uma vitória brasileira teria sido um grande impulso para o psicológico nacional na preparação para a Olimpíada de 2016. Em 2004, menos de dois meses antes dos Jogos de Atenas, a Grécia triunfou na Euro de futebol.
A eletricidade criada com aquela vitória pode ter ajudado a inspirar o público e os organizadores em direção a uma organização com sucesso dos Jogos.
A ver se a “morte” do time brasileiro levará a mais questões sobre se os gastos com a Copa valeram a pena. Qual é valia de ter dado uma grande festa para o resto do mundo se o Brasil não pode desfrutar dela?
Há o perigo de isso acontecer em 2016, a não ser que o Brasil esteja mais preparado do que estava a seleção. Os presidentes do Comitê Olímpico Internacional têm repetido insistentemente que a chave para o sucesso de uma Olimpíada é um time da casa bem sucedido.
Em primeiro lugar, atletas do país-sede criam o interesse do público e ajudar a encher as instalações. Assentos vazios não interessam a uma Olimpíada.
E, em segundo lugar, uma das principais razões de levar os Jogos Olímpicos para um novo país é impulsionar as dezenas de esportes que integram a competição.
O governo brasileiro, o Comitê Olímpico Brasileiro, os clubes esportivos e as escolas têm todos um papel no esforço de deixar o time brasileiro pronto para 2016. O Brasil terá o maior contingente de sua história na Olimpíada do Rio, com representantes em quase todos os esportes.
Será que os jogadores de badminton, os levantadores de peso e os esgrimistas estarão prontos? Eles estão entre os esportes no programa olímpico que não têm grande apelo no Brasil.
E há esportes nos quais o Brasil sempre é candidato a medalha, como o atletismo, a natação e o vôlei. Estarão estes atletas prontos em 2016? Ou o Brasil pressupõe que eles estarão prontos, a exemplo do que ocorreu com um certo time que disputou a Copa de 2014?
*Ed Hula é editor do site Around The Rings, referência mundial na cobertura olímpica, e escreve este artigo a convite do blog