Membro do COI duvida que melhoria na baía de Guanabara saia até 2016

Por Paulo Roberto Conde

O português Fernando Lima Bello, 83, atualmente é membro honorário do COI (Comitê Olímpico Internacional), onde está desde 1989.

Formado em engenharia civil, foi campeão mundial como velejador e disputou dois Jogos Olímpicos (México-1968 e Munique-1972) na classe Dragon.

Com a autoridade de quem transita há décadas no círculo olímpico internacional, Lima Bello afirmou ao blog que a pressão sobre o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio diminuiu, mas que há uma real “preocupação com algumas das novas instalações”.

Em abril, um vice-presidente do COI, o australiano John Coates, disse que a preparação carioca para o megaevento era a pior que ele já havia visto.

Lima Bello, no entanto, discorda de uma definição da organização para 2016. Ele afirmou que, se estivesse no controle, basearia a disputa da vela em Copacabana, e não na Marina da Glória/Baía de Guanabara. “Estou convencido de que a melhoria de 80% prometida não é alcançável em dois anos.”

A vela até tem Copabana como um de seus cinco locais de disputa. Mas para o membro honorário transferi-la totalmente para a praia mais famosa do Rio evitaria polêmicas, como a da sujeira na baía.

Confira a entrevista a seguir:

Depois de críticas pesadas à organização da Rio-2016 entre abril e maio, o COI (Comitê Olímpico Internacional), na figura de seu presidente, Thomas Bach, agora tece elogios aos dirigentes responsáveis pelos Jogos Olímpicos no Brasil. Esse sentimento do COI é real ou foi declarado para tirar a pressão?

Penso que em parte é real, pois o trabalho e o empenho aumentaram, e nesse caso, deve reconhecer-se pois tirará a pressão aos responsáveis, até perante a opinião pública no seu país.

Qual é a percepção de membros e ex-membros do COI com os quais o senhor conversa a respeito da organização da Rio-2016? Em comparação com edições de Sydney, Atenas, Pequim, está muito mais atrasada mesmo?

De Sydney e Pequim, não recordo haver preocupação com atrasos, o que aconteceu com Atenas, onde era muito preocupante, tanto pela real lentidão nos trabalhos como pela grandiosidade que lhe quiseram dar com construções que não eram exigidas. No caso do Rio, há realmente preocupação com algumas das novas instalações, que se por um lado é de boa técnica ter concluídas na hora certa (evitando manutenção), não estão em condições para a realização das eventos-teste, mas para os Jogos estará tudo pronto, se com alguma deficiência ou não, se verá na ocasião.

O senhor acredita que o Rio de Janeiro e o Brasil vão organizar bons Jogos Olímpicos?

De certeza, pois basta a alegria do povo para certamente ser uma festa; lembro os Jogos do México [em 1968], em que participei, que decorreram com alguns problemas, mas agora quais eram eles? Recordo sim a alegria, as competições e os recordes.

Como a notícia da intervenção do COI, colocando Gilbert Felli como supervisor da organização da Rio-2016, repercutiu no COI e no mundo olímpico?

Como uma medida de prudência, pois Felli é um homem que conhece bem as necessidades básicas nos vários desportos.

Ainda há riscos para os Jogos do Rio? Se sim, quais são os maiores, na avaliação do senhor?

Pela minha experiência como antigo velejador, a poluição da água na Baía de Guanabara. Não é bem um risco, mas estou convencido de que a melhoria de 80% prometida não é alcançável em dois anos. A área em questão, a dimensão da sua bacia hidrográfica, não permitem todas as obras que seriam necessárias; comparo com o tempo que levou a despoluir o estuário do Tejo, dezenas de anos. Faço um aparte, pois como técnico, não me é possível apreciar bem o nível de poluição atual e o ideal, como por exemplo na Europa para que uma praia obtenha a “Bandeira Azul”. Também me questiono por que as regatas são na baía e não no mar, em frente à Praia de Copacabana, como esteve previsto na candidatura anterior. Teria muito público, talvez não com a situação dentro da baía, mas a vela nunca foi um desporto de grande assistência, até pela complexidade da prova, pois mesmo a um velejador é difícil de interpretar o decorrer da competição.

Qual memória acha que as pessoas terão da Rio-2016?

Mesmo que na ocasião haja algumas reclamações as memórias serão ótimas.