Técnico cubano de vice-campeã mundial critica Brasil e compara MMA a ‘briga de galo’

Por Marcel Merguizo

Aline Silva chega ao treinamento, dá um carinhoso abraço e um beijo no rosto do treinador. Tratam-se com o respeito de pai e filha, com admiração de mestre e pupila que acabara de ser vice-campeã mundial.

O cubano Alejo Morales, 61, está há 17 anos no Brasil, passou por diversas universidades e há seis anos está à frente do projeto de luta olímpica do Sesi-SP. E mais: trabalha com Aline há dez anos. Tempo suficiente para apostar, em bom portunhol: “Ela vai estar entre as seis melhores da Olimpíada em 2016”.

A confiança na pupila que “mudou 60 anos de história da luta olímpica do país”, porém, vem acompanhada de críticas à estrutura do esporte no Brasil.

“Um país com 200 milhões de habitantes precisa de massificação do esporte. Precisa de uma escola brasileira. Precisa de especialistas. Não temos”, diz.

O exemplo para ele é claro: ganhadora da medalha de prata no Mundial, resultado inédito no país, Aline não tem adversárias contra quem possa treinar no Brasil. Por isso mesmo, desde o início do ano usa o noivo, Flavio Ramos, como sparring.

Alejo também reclama que não acompanha a lutadora em campeonatos internacionais, como o Mundial do Uzbequistão, no início do mês, porque nestes torneios a seleção brasileira tem os próprios treinadores. “Me dá muita vergonha. Isso não acontece em outros países”, afirma, gesticulando como se dissesse que há “dor de cotovelo”.

Por ser um renomado professor de técnicas de luta olímpica, o cubano também já se aventurou no treinamento de lutadores de MMA (lutas marciais mistas). Ele, entretanto, não recomenda que seus alunos deixem um esporte olímpico para entrar em uma modalidade que compara à rinha de galo.

“Você gostaria que seu filho lutasse, enquanto outros riem, como se fosse uma briga de galo?”

A lutadora Aline Silva, 27, posa com medalha de prata do Mundial
A lutadora Aline Silva, 27, posa com medalha de prata do Mundial (Moacyr Lopes Junior/Folhapress)