E parte da imprensa que está acompanhando o Mundial no Qatar pode comprovar o quão difícil é o esporte dominado pelos europeus. Sim, até no jogo entre fotógrafos, jornalistas e comentaristas ficou clara a superioridade do Velho Continente.
Eu, o fotógrafo Wander Roberto, da Inova Foto, e os repórteres Guilherme Cardoso e Bernardo Cruz, do Lance!, representamos o Brasil. Digamos que a atuação brasileira –tomada as devidas proporções– não foi muito diferente da seleção verde-e-amarela no apanhado geral dos Mundiais masculinos de handebol.
Jogamos em uma das três novíssimas e luxuosas arenas do Qatar, a Duhail Sports Hall, dentro do mesmo complexo esportivo em que o Bayern de Munique fez um amistoso contra a seleção da Liga qatari no início de janeiro. Além do ginásio e do estádio, ainda há três campos de futebol para treinamento, duas quadras e uma piscina cobertas, entre outras instalações de dar inveja a qualquer estrutura esportiva no Brasil. Em Duhail fica a sede da federação de handebol do Qatar.
Voltando ao jogo. A quadra é espetacular, emborrachada, macia. Também deve ser uma sensação muito boa jogar para as arquibancadas lotadas para mais de cinco mil torcedores. Mesmo vazia a arena impressiona quando se está no centro da quadra. Os vestiários também são enormes e muito bem cuidados. Há uma sala separada para os técnicos, chuveiros individuais, local para massagem, tratamento com gelo etc. Até um secador de cabelo, dois, na verdade, instalados a cerca de 2 metros de altura há no vestiário.
Voltando para o torneio. No momento da divisão dos times, a organização teve a (brilhante?) ideia de colocar todos representantes da mídia sul-americana juntos. Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Belarus… Ops, os bielorrussos acabaram na equipe porque, bem, porque a organização quis assim. Não foram lá grandes reforços. Melhor foi a dinamarquesa, baixinha, habilidosa, que completou o time. Completou, não. Ela jogou melhor que toda imprensa brasileira junta.
Perdemos a semifinal para um combinado europeu (claro!) dominado por russos. E eles perderam a final para a imprensa alemã. Exatamente, a Alemanha levou um time completo para jogar e ganhou mais um Mundial (?). Os sul-americanos bateram um combinado de africanos, asiáticos e um ou outro europeu na decisão do quarto lugar. Foi a primeira vez que um time da América do Sul ficou entre os três primeiros em um Mundial (?).
Nós, brasileiros, praticantes de handebol apenas no colégio (e olhe lá), não nos destacamos. Como acontece no futebol, alguns comentaristas e colunistas de TV e jornal são ex-jogadores. E foram estes (dois argentinos e um uruguaio) que levaram o time nas costas. E é neste momento que se percebe o quanto o handebol é um esporte que depende muito do preparo físico, da força, da velocidade nos dribles, passes e arremessos. Jogar contra e com gente que é do ramo, aliás, escancara essa diferença. E, claro, é difícil fazer gol. Mesmo saindo de 40 a 60 gols por jogo, quando se tem um goleiro de 2 m x 2 m à frente, não é fácil arremessar a bola ali da linha dos 6 m, 7 m ou 9 m.
Por fim, uma curiosidade que eu tinha desde que comecei a acompanhar handebol: como é jogar com toda aquela cola na bola e na mão? Estranho! Ajuda muito a dominar a bola em passes rápidos e longos, o controle fica melhor. Mas não toque no cabelo, não tente enxugar o rosto ou dar aquela, digamos, ajeitada no calção. Ah, no início é um pouco difícil até de soltar a bola com a força desejada. Algo que se acostuma facilmente depois.
Bom, depois desta experiência já posso responder à pergunta “jogou onde?” quando falar de handebol. Na minha escola e no Mundial do Qatar.