A equipe SCA é uma das sensações da edição 2015/2015 da Volvo Ocean Race, principal competição de vela oceânica do mundo.
Mais pela configuração do time do que pelos resultados. Atualmente apenas a sexta colocada na disputa, que já teve cinco pernas (por enquanto, os barcos estão em Itajaí, em Santa Catarina), a SCA é constituída totalmente por mulheres.
São 15 ao todo, vindas de todos os cantos do mundo. Tem holandesa, britânica, suíça, norte-americana…
Como não poderia deixar de ser, o barco é rosa. E, embora não diretamente nele, o Brasil também está representado. Mas não na tripulação em si. Joca Signorini, que teve participação até em Jogos Olímpicos, é o técnico do time.
Segundo ele, uma equipe exclusivamente feminina é raridade na Volvo. A última vez, contou, ocorreu na edição 2001/2002, e isso faz toda diferença.
“No caso de nossa equipe, a maior diferença é o nível de experiência das velejadoras em regatas de volta ao mundo tripuladas comparada aos homens. Em uma equipe masculina, é muito comum que a maioria dos velejadores esteja em sua segunda, terceira ou até mais participações consecutivas na regata e isso muda completamente o foco na preparação da equipe”, afirmou Signorini à Folha.
Ser o único homem no “clube da Luluzinha” do SCA não foi um problema, de acordo com o brasileiro.
“Durante o período de treinos, eu estava dentro do barco praticamente todos os dias, mas durante a regata, temos que seguir de fora… Auxílio externo é proibido pelas regras, então tentamos ao máximo passar informações e orientações antes da largada e durante o período de preparação para a próxima etapa. Entre as etapas, juntamos nossas anotações sobre o que conseguimos “ver” e acompanhar de fora, com os dados de telemetria do barco”, contou.
Signorini, que já havia velejado outras três vezes na Volvo, disse que a parte mais complicada para a formação da equipe foi o recrutamento. Ele teve de analisar 400 inscrições e definir o elenco final.
Embora, até agora, a SCA não esteja entre as primeiras colocações da disputa, ele prevê uma melhora. “Nosso objetivo é de manter os bons resultados nas regatas locais. Já conseguimos duas vitórias. E quem sabe conseguir um resultado de pódio em alguma etapa. Sabemos que ainda temos que melhorar bastante, mas faltam só pequenos detalhes para conseguir um resultado mais expressivo em uma etapa.”
A holandesa Carolijn Brouwer contou à reportagem: “nunca enfrentamos nenhum tipo de preconceito relacionado ao fato de sermos mulheres. As outras equipes masculinas mostram muito respeito por nós. Além disso, até agora, nós somos a única equipe que ganhou duas In Port Race (regatas locais) nesta edição. Então já vencemos duas vezes, deixando as equipes masculinas para trás.E isso também mostrou às outras equipes que nós queremos e devemos ser tratadas como competidoras do mesmo nível. E eles nos dão esse respeito pois sempre se referem a nós como time SCA e não como o time das meninas ou o barco rosa.”
“Só fazer parte da Volvo Ocean Race é uma coisa muito especial. Então quando você participa de uma competição como essa, você já é um pouco especial, mais aventurosa, uma pessoa profissional que está sempre em busca de ultrapassar seus limites”, complementou.
A Volvo Ocean Race começou em Alicante, na Espanha, em outubro, e depois passou por Cidade do Cabo (África do Sul), Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Sanya (China) e Auckland (Nova Zelândia) antes de chegar a Itajaí. A parada final é em Gotemburgo, na Suécia, em junho.
GUANABARA E A RIO-2016
Holandesa de nascimento mas brasileira por adoção, Carolijn viu toda sua ligação com a vela passar pela baía de Guanabara, no Rio, que será palco das disputas da modalidade durante os Jogos Olímpicos de 2016.
Ela lamentou que o local esteja tomado por poluição, o que tem gerado críticas de órgãos e atletas mundo afora.
“Eu cresci velejando na baía. Sobre a poluição, isso é algo típico dos seres humanos e é algo que sempre temos que reclamar. Me lembro que em 2008, nos Jogos Olímpicos de Pequim, os velejadores estavam preocupados pois o mar estava coberto por algas durante alguns meses. E na preparação e com a chegada dos Jogos, todos ficaram muito inquietos pensando que isso destruiria as regatas do campeonato. Pouco depois a situação se normalizou. Eu espero que tudo isso seja resolvido até os Jogos Olímpicos do Rio”, comentou.