COI já teve escândalo similar ao da Fifa e foi investigado pela Justiça dos EUA

Por Paulo Roberto Conde
O ex-presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, durante audiência em Washington em dezembro de 1999; Samaranch morreu em 2010 (Crédito: Joe Marquette - 15.dez.1999/Associated Press)
O ex-presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, durante audiência em Washington em dezembro de 1999; Samaranch morreu em 2010 (Crédito: Joe Marquette – 15.dez.1999/Associated Press)

Uma avalanche de denúncias de corrupção abala as estruturas da Fifa e da CBF e mancha a imagem do futebol, esporte número 1 do Brasil, em todo o mundo.

Mas vale lembrar que maracutaias não são privilégios –ou, diríamos, malefícios– dos gramados. O mundo olímpico também ficou escaldado com um imbróglio de enormes proporções ocorrido entre o final do século passado e o início deste.

A crise girou em torno da escolha da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002. Salt Lake City, nos EUA, derrotou a suíça Sion, a sueca Östersund e a canadense Québec para conquistar o direito de receber o megaevento –a eleição ocorreu em 1995.

Três anos depois, em 1998, veio à tona uma bomba sem precedentes: o suíço Marc Hodler, membro do COI (Comitê Olímpico Internacional) e um dos votantes, denunciou pagamento de propina que os líderes da candidatura norte-americana deram aos seus pares em troca de votos.

Entre os presentinhos, eram concedidas bolsas em universidades em Utah, dinheiro, benefícios médicos e até lotes de terra aos membros (ao todo, mais de 70 membros visitaram pessoalmente a cidade).

No total, a candidatura de Salt Lake City torrou cerca de US$ 16 milhões à época na campanha (o que hoje daria quase R$ 50 milhões, a se acrescentar a inflação do período).

Depois que Hodler expôs as manobras, quatro investigações foram abertas: no Departamento de Justiça dos EUA (que agora investiga a Fifa), no Comitê Organizador dos Jogos de Salt Lake, no Comitê Olímpico dos EUA e no próprio COI.

A cúpula do comitê organizador caiu quase que inteiramente. O COI recomendou a expulsão de sete de seus membros: Augustin Arroyo (Equador), Zein Abdel Gadir (Sudão), Jean-Claude Ganga (Congo), Lamine Keita (Mali), Charles Mukora (Quênia), Sérgio Fantini (Chile) e David Sibandze (Suazilândia). Outros receberam sanções.

Com a imagem extremamente arranhada, o COI propôs e introduziu uma série de mudanças no processo de candidaturas olímpicas e em seu próprio modus operandi.

Limitou os presentes a seus membros, estabelecendo tetos de preços, restrição para mandatos de presidente e criou normas de transparência.

Seu presidente à época, o espanhol Juan Antonio Samaranch, que estava no poder desde 1980, decidiu não tentar novo mandato –o belga Jacques Rogge ascendeu à presidência em 2001, de onde só saiu em 2013.

O COI batalhou anos para resgatar sua credibilidade depois do escândalo, mas manteve os Jogos de Inverno de 2002 em Salt Lake City.

De certa forma, a polêmica também serviu para a entidade lançar em 2014 a Agenda 2020, pacote de 40 itens para modernizar e lhe tornar mais transparente.

Ainda assim, há desconfiança nos processos de candidatura. Talvez ela nunca se dissipe.

Como também não devem jamais se dissipar as ressalvas sobre tudo o que a Fifa executar.