Diário de Toronto: Cafés, aspiradores e um mergulhador

Por Marcel Merguizo

O tempo traz aprendizado sempre. Por exemplo, após mais da metade do Pan é possível entender porque servem café pelando em Toronto. Não é para você queimar a língua, como nas primeiras vezes, é porque os canadenses (ou os 40% de imigrantes da cidade) pegam a bebida na cafeteria e saem andando pelas, entram no metrô e chegam no trabalho ou na escola com o copão ainda com café –então já em uma temperatura agradável para bebê-lo.

Assim também é durante os Jogos. A paciência que é preciso ter para assistir às disputas, aguardar os atletas na zona mista (onde concedem entrevistas) e voltar para a sala de imprensa ou para as tribunas para escrever e enviar os textos para o Brasil traz lições. Ou melhor, mostra situações novas.

Na natação, por exemplo, muito depois que as últimas braçadas são dadas nas raias, entra em ação um mergulhador. Calmamente ele salta na água e sem pretensão alguma de bater recordes como os atletas que ali passaram, ele retira ou reposiciona as câmeras que captam as imagens subaquáticas das provas.

Não é um tubarão, é um mergulhador arrumando as câmeras de TV subaquáticas do Pan (Fotos: Marcel Merguizo)
Não é um tubarão, é um mergulhador arrumando as câmeras de TV subaquáticas do Pan (Fotos: Marcel Merguizo)

Do Centro Aquático para o Coliseu de Toronto. Da água para o pó. Acabam as apresentações de ginástica artística e sobram nos tablados, traves e tapetes apenas marcas dos atletas que ali pisaram. Os pés e mãos ali marcados são graças ao pó de magnésio que os ginastas usam para ter mais aderência em suas acrobacias. E quando eles saem dali entram em cena os aspiradores de pó. Vários, ao mesmo tempo, para deixar tudo limpo para o próximo show.

No tatame do judô as marcas muitas vezes são mais agressivas. Então, logo os judocas deixam o local das lutas, entra em cena a seleção da limpeza. Agachados, com luvas, panos e rodos, descalços (pois aquele solo é sagrado), esfregando o chão, eles limpam os resquícios do que, minutos antes, era uma das justificativa para os atletas que alcançaram a tão sonhada medalha: sangue e suor.

Quase madrugada em Toronto e os funcionários/voluntários limpam os tatames do judô (Fotos: Marcel Merguizo)
Quase madrugada em Toronto e os funcionários/voluntários limpam os tatames do judô (Fotos: Marcel Merguizo)