O professor pede. E aquelas dezenas de crianças fazem. Agora a brincadeira é: todos sentados ao redor da quadra. Lá vão elas. Ele pede para começarem a bater, animadamente, com a palma das mãos no chão. E o barulho toma conta do ginásio. De repente, aquele professor de óculos e 51 anos passa correndo em alta velocidade por elas, que respondem com uma sonora “Oooooláááá…”.
Uma manhã comum na aula de Educação Física, certo? Não para quem prestou atenção, minutos antes, em uma resposta. “O Brasil ganhou a final?”, pergunta um dos alunos depois da primeira parte do vídeo. “Alguém aqui sabe? Sabe se o Brasil ganhou aquela final?”, indaga o professor. “Eu vou mostrar o vídeo para vocês, mas posso garantir porque eu estava lá: nós ganhamos!”.
Aquela é a final do Mundial feminino de handebol de 2013. E aquele professor ali é Morten Soubak, técnico campeão mundial dirigindo a seleção brasileira.
O dinamarquês mais brasileiro do esporte mundial contagia a criançada. Primeiro com as brincadeiras e descontração. Depois com a seriedade com a qual ensina handebol a elas.
Alê Nascimento, Deonise, Duda e companhia estariam rindo ao ver Morten gritar com as meninas em quadra: “Ataca o espaço, não ataca a pessoa, ataca o espaço”.
Dez, 11, 12 anos… Não importa, se um dia alguma daquelas meninas e meninos se tornarem jogadores de handebol, certamente vão se lembrar da aula de Morten na quadra do Sesc Pompeia, na Semana Move Brasil.
Há a parte séria, as primeiras percepções táticas, a técnica que o dinamarquês tenta introduzir com seu sotaque. Mas são apenas mais um ponto (importante) do aprendizado naquela manhã.
Morten quer mesmo contagiar as crianças (e também os professores que as acompanham). Levá-los para o esporte!
“Vocês jogam handebol na rua?”, questiona. “Por que não?”, insiste. E lá vem outro vídeo do técnico que acostumou-se a ver o handebol como esporte de primeira linha na Europa. Enquanto no Brasil ainda é brincadeira de aula de Educação Física (onde elas ainda existem).
Como não popularizar um esporte com bola, com muitos gols, disputado em equipe, no Brasil? E daí tirar as próximas gerações de atletas em um país de 200 milhões de habitantes? O dinamarquês deve se perguntar isso diariamente…
Ali, na quadra, ele já percebe a habilidade “daquela canhota de azul”. Mas percebe mais ainda: que as crianças estão se divertindo pulando em cama elástica, inventando passes acrobáticos, brincando de “bobinho” com as mãos. E ele está adorando também. Dá uma bronca (como as que dá na beira da quadra comandando a seleção). Mas é só para elas entenderem que além de tudo, há o respeito.
Lições de um campeão mundial. Um técnico que conquistou o mundo. E foi conquistado pelo Brasil. As crianças agradecem.