Em outubro de 2009, os holofotes estavam direcionados para Isabel Swan. Carioca, então com 26 anos, um ano antes tinha sido, ao lado de Fernanda Oliveira, a primeira mulher brasileira medalhista olímpica na vela.Ficou conhecida, tornou-se musa do esporte, posou para fotos sensuais na revista VIP.
O bronze em Pequim-2008 e diversos outros fatores, como ela mesma conta nesta entrevista ao blog Olímpicos, a tornaram embaixadora dos atletas na campanha do Rio, em Copenhague, na Dinamarca. Seis anos depois da campanha vitoriosa na candidatura olímpica de 2016, porém, Isabel, 31, ainda não tem garantida sua vaga nos Jogos do Rio.
Para retornar a uma Olimpíada, ela radicalizou. Mudou para a classe mais radical da vela em busca da última chance de se classificar após duas decepções nas últimas disputas.
Isabel deixou a classe 470, na qual foi medalhista olímpica. Com o mesmo barco, ela tentou a vaga nos Jogos de Londres-2012, ao lado de Martine Grael, mas foi superada pela ex-companheira Fernanda Oliveira e Ana Barbachan. Em maio passado, a velejadora também perdeu a disputa pela vaga na Rio-2016 na classe, desta vez ao lado de Renata Decnop. Com cinco dos dez barcos com os competidores já definidos pela Confederação Brasileira de Vela, Isabel partiu para a última tentativa, em uma classe estreante nos Jogos, a Nacra 17, ao lado de Samuel Albrecht.
“Não me imagino fora [da Rio-2016], estarei em água ou em terra”, afirma Isabel que, caso não classifique, já recebeu convite do comitê Rio-2016 para ajudar na organização do evento.
Olímpicos – Quais as primeiras recordações que vêm à sua mente quando lembra daquela primeira semana de outubro de 2009 em Copenhague?
Isabel Swan – Lembro o quanto nos esforçamos para provar que o Brasil era capaz de receber os Jogos. Estava participando diretamente do processo da campanha e senti que o Brasil ia ganhar. Treinei o discurso bem como treino para competir de barco. Entrei para ajudar o Brasil a levar a candidatura, com dedicação e diplomacia junto aos membros do COI.
Você lembra como foi escolhida a atleta-embaixadora da candidatura brasileira?
Foi uma série de fatores para ser escolhida. Fiz minha primeira participação em Queenstown, na Nova Zelândia, e fui muito bem. Queriam uma medalhista olímpica que pudesse competir em 2016, que falasse inglês, que pudesse trazer o lado emocional do brasileiro no discurso de candidatura. Pratico um esporte popular na Europa, e que Jaques Rogge, na época presidente do COI, praticava, competindo em Olimpíadas no barco Finn. Acho que isso contou muito também.
Ainda hoje, quando vê alguma referência à Rio-2016, você considera que foi uma das responsáveis por conquistar essa Olimpíada para o Brasil?
Considero muito, porque trabalhei com o coração, por acreditar que os jogos deixam um legado especial, de valores, civilidade para nosso país etc. Colocaria o Brasil definitivamente no “mapa” do mundo. Além disso, os atletas passam a estar perto de uma nova geração que podem se inspirar, passando a ter melhores referências. Nós carecemos de bons exemplos na minha opinião e trazer os atletas é uma forma de fazer o Brasil também ampliar os horizontes. Discursei baseada em meus ideais.
Depois daquela conquista de 2009, você permaneceu ligada ao COB? Como foi esse seu trabalho nos últimos anos?
Não fiquei muito ligada. Foquei muito nas minhas campanhas olímpicas e nos últimos anos, tenho trabalhado dentro e fora d’agua para conseguir apoio. Acredito que nesse processo as coisas melhoraram para os atletas, principalmente por medidas feitas pelo Ministério do Esporte, como o Bolsa Atleta, Bolsa Pódio e a lei de incentivo ao esporte.
Você se imagina fora dos Jogos Olímpicos do Rio?
Não me imagino fora, estarei em água ou em terra. Venho trabalhando muito nos últimos anos e acredito que terei meu espaço. Estou treinando para que seja na nova classe Nacra 17, a mais radical e única mista da vela olímpica.
Como tomou a decisão de mudar de classe?
Optei por essa classe Nacra 17 por acreditar que tenho mais chances de disputar entre os primeiros. Como é a primeira vez na Olimpíada, muitos detalhes de regulagem de velas ainda estão sendo descobertos e isso faz com que as chances estejam mais abertas. Mas ainda estamos em processo de definição e o Brasil tem mais 5 tripulações na disputa, que acontece em dezembro.
Quais são as chances de vocês nesta nova classe? É possível comparar se é mais fácil ou mais difícil do que em outras?
É a classe mais radical, temos que velejar de capacete. É a mais rápida também. O barco trabalha muito no limite. É um grande desafio e adrenalina pura com vento mais forte. É “one design”, isto é, você só conta com um modelo de material/equipamento, o que torna mais fácil, porque é menos uma variável. Na 470 são diversos modelos e fornecedores de barco, diferente da Nacra.
Haveria tempo de uma nova tentativa em uma outra classe ainda?
Agora o foco total é dezembro na Copa Brasil de Vela. O objetivo é classificar. Estou focada neste plano. Pretendo mantê-lo.
Você conseguiu um feito histórico para a vela feminina do Brasil, virou musa, passou a representar o país institucionalmente, enfim, do pessoal ao profissional teve grande sucesso na carreira. Como é lidar com tudo isso com o passar dos anos e, agora, às vésperas dos Jogos Olímpicos em casa daqui a 10 meses?
Olhar para trás e ter orgulho de ter mantido meus princípios, trabalhado duro e com humildade. Espero colher frutos disso, e que nos próximos meses, seja o momento de chegar com tudo para os Jogos do Rio.