
As velejadoras Renata Decnop e Isabel Swan tocam “I will survive”. Renato Rezendo, do BMX, desfila como se fosse modelo de passarela. O jogador de vôlei de praia Evandro faz dupla nas piadas com o humorista Marcelo Marrom. Raphaela Galacho e Alessadra Marchioro, respectivamente do taekwondo e da natação, sobem ao palco e apresentam a próxima atração.
Poderia ser um show de calouros olímpicos ou o lançamento do programa de TV “Casa dos Atletas”. No entanto, as cenas acima ocorreram no oitavo workshop do Time Nissan, projeto criado em 2012 em que a montadora patrocina um grupo de 30 atletas rumo aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio-2016. O acordo se encerra ano que vem, mas a empresa já estuda continuá-lo.
Nas 24 horas do encontro no Rio, os 25 atletas que puderam comparecer, os dois mentores (a ex-jogadora de basquete Hortência e o nadador paraolímpico Clodoaldo Silva), ao lado das equipes da Nissan e de convidados, debateram a pressão dos Jogos em casa e trocaram ideias sobre como a convivência na Vila Olímpica pode influenciar nos resultados. Eles fizeram uma visita a alguns apartamentos decorados e também ao Parque Olímpico da Barra –este sem a presença da imprensa. “Quando entrei no Centro Aquático deu aquele arrepio. Sensação de ‘quero voltar aqui’ ano que vem”, disse Alessandra Marchioro.
Sexo, badalação, relacionamentos, torcida, família, superação e medalhas estiveram em debate neste oitavo encontro (nos anteriores, desde 2013, já foram discutidos de alimentação à direção defensiva). Os atletas não recebem salários ou ajudas financeiras mensais, mas ganharam um carro da montadora e participam destes treinamentos, além de ter acompanhamento da empresa. “Isso é dinheiro também”, diz Edênia Garcia, da natação paraolímpica.
Segundo os atletas, não há o que pague o relacionamento familiar que criaram entre eles. Raphaela e Alessandra, por exemplo, não se desgrudaram durante o workshop. Amizade criada em 2013, pois antes do Time Nissan nem sequer se conheciam. E amaneira de manterem contato entre os 30, os mentores e a equipe da Nissan é o celular. O grupo de Whatsapp, aliás, é a forma de torcerem uns pelos outros, acompanharem os resultados e, claro, fazerem piadas internas. Muitas delas, contam, comandadas por Hortência e Clodoaldo. A Rainha do basquete não perde uma chance de provocar o nadador, que retribui com piadas sobre a idade (56 anos) e a boa forma da ex-jogadora. “Todos em pé para aplaudir…” ou “podem se sentar, por favor”, sempre tem um tom bem-humorado (às vezes sem querer) para brincar com Clodoaldo e outros atletas cadeirantes.
O papo fica sério, no entanto, quando o assunto é disputa por medalhas nos Jogos do Rio e as armadilhas existentes no caminho.
“Na minha primeira Olimpíada eu tinha 32 anos. E não tem como não ficar deslumbrado em cruzar com aqueles caras que você só vê pela TV. Por isso é importante não sair do foco. São 15 dias que vão durar pelo resto da sua vida. Mas a maioria dos atletas que está ali na Vila sabe que não vai conquistar medalha”, lembrou Hortência.
“Vai ter muito homem e muita mulher se exibindo. Mas isso é passageiro. Uma medalha é para sempre. O que vocês querem? Namorado e namorada vocês vão ter para o resto da vida. Tomem cuidado. Depois não dá para voltar atrás. Muita atenção com a Vila Olímpica”, alertou a medalhista de prata em Atlanta-1996.
Convidada a palestrar para os atletas, a líbero Fabi, bicampeã olímpica no vôlei (2008 e 2012), falou sobre a pressão de atuar em casa e recordou a derrota brasileira nos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, definida por ela como “maior revés” e “pior experiência” de sua vida como atleta.
“Tivemos problemas com ingresso. Preocupação com a família. Muito pouco foco na competição. Ser país sede pode ser positivo, mas é cheio de armadilhas”, disse Fabi, como alerta ao que pode acontecer na Olimpíada do ano que vem. Depois, ela usou o exemplo da superação do time em Londres-2012, quando quase foram eliminadas na primeira fase dos Jogos mas acabaram campeãs.
“A Vila é a maior armadilha, é um sonho, é a Disneylândia do esporte”, afirmou Fabi.
*O jornalista Marcel Merguizo viajou a convite do Time Nissan
