Desistência de Hamburgo dos Jogos de 2024 é mais um duro golpe para o COI

Por Paulo Roberto Conde

O veto à participação de Hamburgo na corrida olímpica para os Jogos de 2024, definido neste domingo (30) após plebiscito na cidade, representa mais um duro golpe à credibilidade do COI (Comitê Olímpico Internacional).

E, por que não dizer?, ao futuro do maior evento esportivo do planeta.

Hamburgo é a segunda maior cidade da Alemanha e, se não era considerada de antemão uma favorita a sediar a competição (Paris e Roma são mais badaladas, digamos), entraria na contenda com força graças à pujança econômica do país e também pelo fato de o atual presidente do COI, Thomas Bach, ser alemão.

Em uma pré-seleção interna realizada em março, Hamburgo havia até mesmo superado Berlim como indicada. Mas nem isto foi suficiente para dissipar as dúvidas sobre o que realmente representa sediar os Jogos Olímpicos atualmente.

Olimpíadas são caras (Sochi-2014 custou quase R$ 200 milhões), de legado incerto (Atenas-2004 tem uma profusão de instalações abandonadas) e promessas infinitas, mas realidade nem sempre tão segura (o que será do Rio-2016, que atualmente tem custo total estimado em cerca de R$ 39 bilhões?).

Os alemães de Hamburgo entenderam isso. Ainda mais agora, em um momento em que pesam sobre diversos órgãos esportivos internacionais suspeitas –e comprovações pesadas.

Cidadão vota no referendo que decidiu barrar candidatura de Hamburgo (Crédito: Axel Heimken/Efe/EPA)
Cidadão vota no referendo que decidiu barrar candidatura de Hamburgo (Crédito: Axel Heimken/Efe/EPA)

Leia-se aí o escândalo na cúpula da Fifa, a rede de dopagem estatal na Rússia, a corrupção da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), supostas fraudes nas escolhas das Copas de 2018, 2022, e, agora, até mesmo na da Alemanha-2006.

Em resumo, o esporte está em xeque. Investir em megaeventos é um risco. As pessoas têm se dado conta disso e o COI tem pagado o pato.

Apenas para ilustrar, a corrida para ser sede dos Jogos Olímpicos de 2012 teve nove cidades aplicantes: Paris, Moscou, Londres, Nova York, Madri, Leipzig, Rio, Istambul e Havana.

Destas, quatro foram eliminadas (Havana, Istambul, Rio e Leipzig) e cinco entraram na fase de candidatura, de fato, e foram até a rodada final. Londres acabou eleita em 2005 a sede e promoveu um evento espetacular há pouco mais de três anos.

Para os Jogos de 2016, cujo vencedor foi o Rio, houve outros três finalistas (Madri, Tóquio e Chicago). Para os de 2020, foram três cidades na decisão (Tóquio, Madri e Istambul). Ou seja, o número tem caído a cada ciclo.

Agora, vejamos como fica a corrida para 2024. Com a saída de Hamburgo, são apenas quatro cidades pretendentes –além de Roma e Paris, Budapeste e Los Angeles também são pré-aplicantes.

As remanescentes podem sair, a exemplo dos alemães. A data-limite de inscrição era 15 de setembro deste ano, e a escolha da sede ocorrerá em 2017, em Lima, no Peru.

O prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, após o referendo que optou pela saída da cidade da corrida para 2024 (Crédito: Axel Heimken/Efe/EPA)
O prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, após o referendo que optou pela saída da cidade (Crédito: Axel Heimken/Efe/EPA)

O risco, altíssimo, é o de acontecer algo similar ao processo de escolha dos Jogos de Inverno de 2022 –Pequim foi eleita. Ao longo da campanha, quatro cidades cancelaram suas candidaturas: Estocolmo (falta de apoio político), Cracóvia (decisão popular), Lviv (crise na Ucrânia) e Oslo (falta de garantias do governo).

Os noruegueses eram os favoritos para ganhar a disputa.

Depois de tantos abandonos, sobraram apenas Pequim e Almaty, no Cazaquistão, em uma das mais constrangedores eleições de sede olímpica. A contragosto, porque seria a segunda Olimpíada de Inverno consecutiva na Ásia (Pyeongchang, na Coreia do Sul, será o palco em 2018), os membros do COI elegeram a capital chinesa.

Em meio a essa desconfiança toda sobre seu maior produto, o COI lançou em dezembro do ano passado a Agenda 2020, uma série de 40 determinações para modernizar o movimento olímpico. Os principais tópicos falam de tornar o processo de escolha e a realização da competição, bilionária, mais sustentável.

A julgar pelo humor do público em relação aos Jogos, 2024 tem tudo para ser um novo estorvo para o comitê olímpico.