O veto à participação de Hamburgo na corrida olímpica para os Jogos de 2024, definido neste domingo (30) após plebiscito na cidade, representa mais um duro golpe à credibilidade do COI (Comitê Olímpico Internacional).
E, por que não dizer?, ao futuro do maior evento esportivo do planeta.
Hamburgo é a segunda maior cidade da Alemanha e, se não era considerada de antemão uma favorita a sediar a competição (Paris e Roma são mais badaladas, digamos), entraria na contenda com força graças à pujança econômica do país e também pelo fato de o atual presidente do COI, Thomas Bach, ser alemão.
Em uma pré-seleção interna realizada em março, Hamburgo havia até mesmo superado Berlim como indicada. Mas nem isto foi suficiente para dissipar as dúvidas sobre o que realmente representa sediar os Jogos Olímpicos atualmente.
Olimpíadas são caras (Sochi-2014 custou quase R$ 200 milhões), de legado incerto (Atenas-2004 tem uma profusão de instalações abandonadas) e promessas infinitas, mas realidade nem sempre tão segura (o que será do Rio-2016, que atualmente tem custo total estimado em cerca de R$ 39 bilhões?).
Os alemães de Hamburgo entenderam isso. Ainda mais agora, em um momento em que pesam sobre diversos órgãos esportivos internacionais suspeitas –e comprovações pesadas.
Leia-se aí o escândalo na cúpula da Fifa, a rede de dopagem estatal na Rússia, a corrupção da IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo), supostas fraudes nas escolhas das Copas de 2018, 2022, e, agora, até mesmo na da Alemanha-2006.
Em resumo, o esporte está em xeque. Investir em megaeventos é um risco. As pessoas têm se dado conta disso e o COI tem pagado o pato.
Apenas para ilustrar, a corrida para ser sede dos Jogos Olímpicos de 2012 teve nove cidades aplicantes: Paris, Moscou, Londres, Nova York, Madri, Leipzig, Rio, Istambul e Havana.
Destas, quatro foram eliminadas (Havana, Istambul, Rio e Leipzig) e cinco entraram na fase de candidatura, de fato, e foram até a rodada final. Londres acabou eleita em 2005 a sede e promoveu um evento espetacular há pouco mais de três anos.
Para os Jogos de 2016, cujo vencedor foi o Rio, houve outros três finalistas (Madri, Tóquio e Chicago). Para os de 2020, foram três cidades na decisão (Tóquio, Madri e Istambul). Ou seja, o número tem caído a cada ciclo.
Agora, vejamos como fica a corrida para 2024. Com a saída de Hamburgo, são apenas quatro cidades pretendentes –além de Roma e Paris, Budapeste e Los Angeles também são pré-aplicantes.
As remanescentes podem sair, a exemplo dos alemães. A data-limite de inscrição era 15 de setembro deste ano, e a escolha da sede ocorrerá em 2017, em Lima, no Peru.
O risco, altíssimo, é o de acontecer algo similar ao processo de escolha dos Jogos de Inverno de 2022 –Pequim foi eleita. Ao longo da campanha, quatro cidades cancelaram suas candidaturas: Estocolmo (falta de apoio político), Cracóvia (decisão popular), Lviv (crise na Ucrânia) e Oslo (falta de garantias do governo).
Os noruegueses eram os favoritos para ganhar a disputa.
Depois de tantos abandonos, sobraram apenas Pequim e Almaty, no Cazaquistão, em uma das mais constrangedores eleições de sede olímpica. A contragosto, porque seria a segunda Olimpíada de Inverno consecutiva na Ásia (Pyeongchang, na Coreia do Sul, será o palco em 2018), os membros do COI elegeram a capital chinesa.
Em meio a essa desconfiança toda sobre seu maior produto, o COI lançou em dezembro do ano passado a Agenda 2020, uma série de 40 determinações para modernizar o movimento olímpico. Os principais tópicos falam de tornar o processo de escolha e a realização da competição, bilionária, mais sustentável.
A julgar pelo humor do público em relação aos Jogos, 2024 tem tudo para ser um novo estorvo para o comitê olímpico.