A zika do Rio já foi terrorismo, poluição, lei anti-gay e falta de liberdade em outros Jogos

Por Marcel Merguizo

Às vésperas das disputas, os Jogos Olímpicos costumam sofrer com grandes polêmicas.

E se a ameaça da vez no Rio é a zika, em Olimpíadas anteriores outros assuntos já fizeram surgir a possibilidade de boicote por parte de vários países. Ao menos neste século, nenhuma delas se concretizou.

Em Sochi-2014, na Rússia, além das tensões militares na região, ocorreram diversos protestos contra a lei anti-gay defendida pelo governo de Vladimir Putin. A pressão contra os russos foi do Google (com bandeira gay em seu logo no dia da abertura) a protestos que resultaram em violência policial contra defensores da liberdade de expressão.

Dois anos antes, em Londres-2012, além das ameaças de greve do metrô e do protesto dos taxistas, a capital inglesa se preocupava com as ameaças terroristas às vésperas dos Jogos. Houve ainda uma onda de violência na cidade que encurtou o evento-teste de vôlei de praia e cancelou jogos de futebol menos de um ano antes da Olimpíada.

Poucos dias antes do início do megaevento, a empresa privada que se encarregaria da segurança, contratada por valores altíssimos (R$ 895 milhões na época), não conseguiu fornecer os funcionários prometidos para a operação. O jeito foi recorrer a militares.

Pequim-2008 foi outro grande foco de protestos de diversas origens antes dos Jogos. E não apenas pela poluição que ameaçava várias provas olímpicas ou pela censura à Internet.

A organização internacional Repórteres sem Fronteiras fez um apelo à União Europeia para que interrompesse o diálogo sobre direitos humanos com autoridades chinesas e boicotasse a cerimônia de abertura da Olimpíada (o motivo era a prisão do dissidente chinês Hu Jia, acusado pelo governo de Pequim de subversão por causa de suas críticas ao regime do país).

A “Geração dos estudantes de 1988”, um dos principais grupos de oposição de Mianmar, fez um apelo à população para boicotar os Jogos Olímpicos de Pequim, devido ao apoio chinês à junta militar que governa o país.

Monges budistas com o apoio da população civil também protagonizam protestos para lembrar o aniversário da fracassada rebelião de 1959 no Tibete e em outros lugares, como Índia ou Nepal (o que motivou um movimento de boicote, contra a repressão chinesa no Tibete).

E se Londres, em 2012, já sofria com ameaças terroristas, lembre-se de Atenas-2004, logo após os atentados de 11 de setembro nos EUA e 11 de março de 2004 em Madri.

Apesar de dizer que não havia risco de os Jogos de Atenas serem cancelados ou interrompidos no meio, o COI (Comitê Olímpico Internacional) fez um seguro inédito. Pela primeira vez na história, foi atrás de uma empresa que reembolsasse parte da verba investida na Grécia caso a Olimpíada não fosse realizada ou mesmo não chegasse ao seu final.

Depois do atentado terrorista de 11 de março em Madri, o COI teve duas reuniões de emergência com o comitê organizador, e saiu dos encontros decidido a contratar uma seguradora. A avaliação era que, devido à conjuntura mundial, o risco de a Olimpíada não acontecer ou ser interrompida por causa de uma ação terrorista é muito maior do que o dos Jogos anteriores.

Como a história conta: os Jogos Olímpicos acima foram realizados.

Protesto do Repórteres Sem Fronteiras pela liberdade antes dos Jogos de Pequim-2008 (Victor Fraile/Reuters)
Protesto do Repórteres Sem Fronteiras pela liberdade antes dos Jogos de Pequim-2008 (Victor Fraile/Reuters)

 

 

Ativista do Femen protesta em Londres antes dos Jogos de 2012 (Paul Hackett/Reuters)
Ativista do Femen protesta em Londres antes dos Jogos de 2012 (Paul Hackett/Reuters)
Protesto contra Jogos Olímpicos de Sochi-2014 é reprimido por polícia russa
Protesto contra Jogos Olímpicos de Sochi-2014 é reprimido por polícia russa
Protesto contra lei anti-gay russa antes de Sochi-2014
Protesto contra lei anti-gay russa antes de Sochi-2014

 

Imagem com raquetes para matar mosquito formam símbolo olímpico
Imagem com raquetes para matar mosquito formam símbolo olímpico