Chester Williams, 45, ainda se lembra quando, naquele 24 de junho de 1995, Nelson Mandela entrou no vestiário dos Springboks.
Faltavam poucos minutos para o início da final da Copa do Mundo de rúgbi e o estádio Ellis Park, em Johannesburgo, estava apinhado. A África do Sul, recém-saída do apartheid e cujo único negro era Chester, desafiaria a toda-poderosa Nova Zelândia.
“Lembro de Nelson Mandela andando até o vestiário para dar boa sorte, as pessoas paravam boquiabertas, eu entre elas. Ele era o símbolo de uma nova África do Sul”, afirmou Chester ao blog, ele próprio um dos símbolos do fim do apartheid, horas antes de correr com a tocha olímpica em Curitiba, na quinta-feira passada (14).
Os sul-africanos derrotaram os neozelandeses há 21 anos. Agora, bem mais velho, o ex-jogador contou que a volta do rúgbi aos Jogos Olímpicos 92 anos depois de sua última aparição (em Paris-1924) se trata de uma emoção, se não tão grandiosa quanto o título mundial, ao menos semelhante.
“Estou muito empolgado com o fato de o rúgbi ser parte da Olimpíada pela primeira vez em cem anos”, disse, para em seguida complementar como condutor da tocha. “É uma honra pessoal por, de alguma forma, ser parte dos Jogos. Carregar a tocha é uma conclusão de uma grande trajetória que vivi.”
Aqui cabe um parêntese. O rúgbi que será disputado no Rio de Janeiro será no formato sevens (com sete jogadores em campo e 14 minutos de disputa), bem diferente do formato “union”, com 15 de cada lado e duração muito maior, bem mais tradicional –a Copa do Mundo, disputada a cada quatro anos, tem uma das maiores audiências do planeta.
Chester acredita que a diferença de estilos é insignificante. “Será muito bom ver tantas nações celebrando o rúgbi, é isso o que importa.”
Ele considera sua África do Sul, Fiji, Nova Zelândia, Samoa, Austrália e Reino Unido como maiores favoritos à medalha de ouro. Também disse que os EUA correm por fora, como azarões. “Será muito equilibrado, disso todos podem estar certos”, afirmou.
O Brasil ainda engatinha, mas Chester tem contribuído com vindas periódicas para dar clínicas a jovens atletas.
Se o país não respira o rúgbi, na avaliação do sul-africano o Rio vai causar impacto. “As pessoas do Brasil podem não entender muito de rúgbi, mas vão se envolver porque é divertido, apaixonante.”