Aline Silva é a primeira e única brasileira medalhista em um Mundial de luta olímpica e dona da primeira e única vaga já garantida nos Jogos do Rio, certo? Não. Ou melhor, não para a Confederação Brasileira de Wrestling (CBW, antiga CBLA). Para a entidade ela precisaria competir contra uma adversária neste sábado (12) na Copa Brasil, em Contagem (MG), para assegurar o lugar. Só falta a rival.
Mas esse não seria um problema para a lutadora de 29 anos, que já está na cidade mineira e realmente não tem rivais na sua categoria no país. O que incomodou Aline foi saber que a CBW não a considera classificada para os Jogos do Rio –apesar de a vaga ser propagada como dela.
E mais: Aline sofre com hipertireoidismo desde 2010. Com remédios, resolveu o problema. Mas, há dois meses, descobriu que sofre agora com hipotireoidismo, que a faz ganhar peso. Assim, estava pesando 80 kg nos treinamentos atuais. Como não competiria mais neste ano, a lutadora não teria que perder estes quilos até que soube, nesta sexta (11), que precisaria lutar pela vaga olímpica que considera já ser sua.
“Como estou com dificuldade para baixar o peso, por causa do problema na tireoide, os técnicos da seleção até me perguntaram porque eu precisava treinar para perder peso (nesta sexta) para lutar contra ninguém (no sábado). Então fui perguntar para a Confederação e me disseram que, se aparecer alguém na minha categoria, teria que lutar pela vaga. Mas a própria Confederação me disse que não tinha. Aí reforcei: ‘eu tenho que lutar pela minha vaga com qualquer uma que aparecer?’ E eles disseram que era a regra. Então em um dia tive que perder mais três para bater o peso. Prefiro isso do que fazer a seletiva depois”, explicou Aline ao blog Olímpicos.
Segundo a CBW, “a Copa Brasil é um torneio internacional e vale pontos no ranking mundial. Seguindo os critérios olímpicos adotados pela Confederação, os atletas nacionais devem participar das principais competições realizadas. Lembrando que a vaga conquistada por Aline é do país na categoria até 75kg. Caso ela se machuque ou seja cortada, o país continua com a vaga. Teremos seletivas olímpicas a partir de março 2016.”
No fim do dia, na sexta-feira, após conseguir chegar no peso exigido em sua categoria, Aline soube que não precisaria lutar neste sábado, pois, como esperado, não teria adversária.
“Quando soube que não teria ninguém, fui questionar se eu teria mesmo que me pesar. Como disseram que sim, eu dei meu jeito, pois sou profissional e fiz minha parte, bati o peso”, diz Aline. “Mas não deveria perder 3 kg em um dia. Fiquei desidratando à toa, acabou a pesagem e não tenho contra quem lutar”, completa a lutadora que ficou em Contagem auxiliando as companheiras de clube e seleção.
Vice-campeã mundial em 2014, primeira medalha de um brasileiro na história da luta olímpica, Aline conquistou a vaga no Mundial deste ano, ao ficar na quinta colocação na competição em Las Vegas (EUA), em setembro.
“Para os brasileiros, a Copa Brasil está valendo como vaga na seleção para poder disputar os pré-olímpicos que serão realizados ano que vem. Porém, em todas as outras edições olímpicas em que tivemos atletas classificadas, a CBW não colocava essas vagas em disputa. Na prática, a vaga é do país, eu sei, mas a vantagem que eu podia ter por já estar classificada parece não existir no nosso país”, reclama Aline.